Categorias
Espiritualidade

Mamãe, estou aqui

Evocações Particulares
MAMÃE, ESTOU AQUI!

A mãe: Em nome de Deus, Todo-Poderoso, Espírito de Júlia, minha filha querida, peço-te que venhas, se Deus o permitir.
Júlia: Mamãe, aqui estou!
A mãe: És tu, minha filha, que me respondes? Como posso saber que és tu?
Júlia: Lili.

Observação: Era o apelido familiar, dado à moça em sua infância. Nem a médium o sabia, nem eu, pois há muitos anos só a chamavam Júlia. Com este sinal, a identidade era evidente. Não podendo dominar a emoção, a mãe rompeu em soluços.

Júlia: Mãe, porque te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.
A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?
Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha não sobre a Sra. X (a médium), para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).
A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?
Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?
A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?
Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.
A mãe: Com efeito eu te vi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.
Júlia: Não; sou eu mesma, que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr. Z: ele não é sincero.

Observação: Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim, espontaneamente, era uma nova prova da identidade do Espírito que se manifestava.

A mãe: Que pode fazer contra mim o Sr. Z?
Júlia: Não te posso dizer, isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.
A mãe: Estás entre os anjos?
Júlia: Oh! ainda não: não sou bastante perfeita.
A mãe: Entretanto, não te conhecia nenhum defeito, eras boa, meiga, amorosa e benevolente para com todos. Então isto não basta?
Júlia: Para ti, mãe querida, eu não tinha defeitos, e eu o acreditava, pois mo dizias tantas vezes! Mas, agora, vejo o que me falta para ser perfeita.
A mãe: Como adquirirás essa qualidades que te faltam?
Júlia: Em novas existências, que serão cada vez mais felizes.
A mãe: É na Terra que terás novas existências?
Júlia: Nada sei a respeito.
A mãe: Desde que não fizeste o mal em tua vida, porque sofreste tanto?
Júlia: Prova! Prova! Eu a suportei com paciência, pela minha confiança em Deus. Hoje sou muito feliz por isto. Até breve, querida mamãe!

Observação: Ante fatos como estes, quem ousará falar do nada do túmulo, quando a vida futura se nos revela, por assim dizer, palpável? Essa mãe, minada pelo desgosto, experimenta hoje uma felicidade inefável em poder conversar com a filha; entre ambas não há mais separação; suas almas se confundem e se expandem na intimidade espiritual, pela troca de seus pensamentos.

Apesar da discrição em que envolvemos esta relato, não o teríamos publicado se não tivéssemos tido autorização formal. Aquela mãe nos dizia: Possam quantos perderam suas afeições terrenas experimentar a mesma consolação que experimento!

Acrescentamos apenas uma palavra aos que negam a existência dos bons Espíritos. Perguntamos como poderiam provar que o Espírito desta jovem fosse um demônio malfazejo!

Allan Kardec
Revista Espírita, Janeiro de 1858.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.