Amigos, esse texto é extenso, mas acho importante a sua leitura, tendo em vista a atualidade do assunto.
“E ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras; olhai não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes e terremotos, em vários lugares.” Jesus (Mateus, 24: 6-7).
Jesus, no sermão profético, fala do princípio das dores que assolarão a Humanidade.
Guerras e sofrimentos sempre existiram ao longo dos milênios terrestres. Sabemos, contudo, que o Mestre fala de um momento especial, de uma situação jamais vista em nosso planeta.
E nós nos perguntamos: será este momento que estamos vivendo o prenúncio de dores maiores? Olhando o panorama global constatamos sinais bastante significativos de que algo diferente está ocorrendo com as criaturas humanas. Nos últimos tempos, grandes tragédias coletivas ou em âmbito menor têm chocado a opinião pública, ao mesmo tempo em que acontecem crimes hediondos que ultrapassam tudo o que nossa imaginação consiga conceber. Sofremos impactos quase diários com essas ocorrências que a mídia divulga com o estardalhaço costumeiro e, mesmo sem querer, tornamo-nos cientes de tais atrocidades.
As paixões humanas parecem estar exacerbadas, as drogas e vícios de todo tipo encontram as criaturas desprevenidas e enfraquecidas, deseducadas e baldas de valores morais e espirituais, oferecendo campo aberto e fértil aos distúrbios comportamentais e aos processos obsessivos.
Novos credos religiosos surgem aqui e ali, proliferando os “shows” da fé como os próprios líderes os denominam, sem que haja um aprofundamento maior nos preceitos da mensagem cristã que dizem abraçar e que possibilite uma renovação moral consciente e em plenitude. Por outro lado, todos os dias temos notícias de corrupção, de desvios de verbas de milhões e milhões de reais por ditas “autoridades” ou por espertalhões que a impunidade alberga, desconhece ou premia. E enquanto isso, a miséria prossegue fazendo as suas milhares de vítimas diariamente.
São as “guerras” do cotidiano a expressarem aquelas existentes no mundo íntimo de cada um.
Destas decorrem as guerras entre as nações. A história da Humanidade é uma história de guerras. A paz é uma aspiração, uma esperança, uma necessidade. Mas é também uma conquista que muitos pensam conseguir com as armas. A paz amada é, para estes, armada. E assim fomos escrevendo o livro da vida, a nossa, particular, e a do Planeta.
Mas o ser humano tem extrapolado em sua ambição e egoísmo. A guerra atinge requintes inimagináveis.
Nosso Lar, o notável livro de André Luiz, best seller entre as dez melhores obras espíritas do século XX, psicografado pelo nosso inesquecível Chico Xavier, apresenta no capítulo 24, intitulado “O impressionante apelo”, a repercussão da Segunda Guerra Mundial no plano espiritual.
André está em companhia de Lísias quando este liga um aparelho receptor para ouvir as notícias veiculadas pela emissora do Posto Dois, de Moradia, “velha colônia de serviços ligada às zonas inferiores”. Vejamos alguns trechos:
“– (…) Continuamos a irradiar o apelo da colônia, em benefício da paz na Terra. Concitamos os colaboradores de bom ânimo a congregar energias no serviço de preservação do equilíbrio moral nas esferas do globo. Ajudai-nos, quantos puderem ceder algumas horas de cooperação nas zonas de trabalho que ligam as forças obscuras do Umbral à mente humana. Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações europeias, impulsionando-as a novos crimes. (…) Nevoeiros pesados amontoam-se ao longo dos céus da Europa. Forças tenebrosas do Umbral penetram em todas as direções, respondendo ao apelo das tendências mesquinhas do homem.”
Era o mês de agosto de 1939, conforme esclarece Lísias, ante a surpresa de André Luiz, que desconhecia a angustiosa situação mundial. Em seguida, outros apelos foram ouvidos por ambos e a certa altura o locutor conclama:
“A humanidade encarnada é igualmente nossa família. Unamo-nos numa só vibração. Contra o assédio das trevas, acendamos a luz; contra a guerra do mal, movimentemos a resistência do bem. Rios de sangue e lágrimas ameaçam os campos das comunidades europeias.”
Desligando o aparelho Lísias prenuncia:
“– (…) Tudo inútil, porém (…), a humanidade terrestre pagará, em dias próximos, terríveis tributos de sofrimento.” E esclarece, ante a emoção de André, que a Humanidade, como personalidade coletiva, “(…) está nas condições do homem insaciável que devorou excesso de substâncias no banquete comum. A crise orgânica é inevitável. Nutriram-se várias nações de orgulho criminoso, vaidade e egoísmo feroz. Experimentam, agora, a necessidade de expelir os venenos letais.”
Em 1945 explodiram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, ampliando os rios de sangue e lágrimas que Lísias havia previsto. Note-se que o livro Nosso Lar foi lançado no ano de 1944.
A esse respeito, é bom ressaltar que Einstein foi acusado por algumas pessoas de ser o culpado pela fabricação das bombas, por ter descoberto a relação entre massa e energia, mas, como diz o físico Stephen Hawking, no livro O Universo numa casca-de-noz, “isso é como culpar Newton pelas quedas de aviões, por ter descoberto a gravidade. O próprio Einstein não participou do projeto Manhattan (Programa americano de pesquisa nuclear, que culminou com a fabricação da bomba atômica) e ficou horrorizado com a queda da bomba”.
O sermão profético de Jesus prossegue:
“Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” (Mateus, 24:10-13.)
Às vezes vemos pessoas exigindo a pena de morte, argumentando ser a única solução para os males deste mundo, para os criminosos, sequestradores, estupradores, enfim, para retirá-los definitivamente da sociedade. E de quebra vêm os favoráveis ao aborto e à eutanásia – também estes, pena de morte – pleiteando que esses crimes sejam legalizados.
São rumores de guerras. Quando o amor se ausenta, a dor se instala, como alerta Joanna de Ângelis. Na guerra predomina a sombra coletiva evidenciando de forma explícita a ambição e o orgulho, o egoísmo e a paixão pelo domínio.
Acerca desse tema sombra encontramos no livro Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, de Joanna de Ângelis, preciosos ensinamentos, os quais recomendamos ao amigo leitor.
Ao expor o pensamento de Jung a respeito do complexo da sombra existente na personalidade humana, Anthony Stevens afirma que o ser humano tende a negar a sua existência, de modo inconsciente, numa atitude de preservação do próprio ego.
“Desse modo – esclarece – nós acabamos negando a nossa própria ‘maldade’ e a projetamos nos nossos semelhantes, a quem acusamos como responsáveis pela mesma. Esta atitude de esperteza inconsciente explica a prática antiga de arranjar um ‘bode expiatório’: ela põe em destaque todos os tipos de preconceitos contra as pessoas que pertencem aos grupos que não se identificam com o nosso grupo e entra na formação da desculpa para todos os massacres, ataques organizados a minorias étnicas e toda espécie de guerras.
Através da projeção da sombra, nós conseguimos transformar nossos inimigos em ‘demônios’ e convencer-nos de que eles não são homens e mulheres ‘iguais a nós’, e sim monstros indignos de qualquer consideração humana. Os líderes nacionais podem fazer uso inescrupuloso desta tendência, a fim de alcançar os seus próprios objetivos políticos. Os discursos de Adolf Hitler, por exemplo, recorriam com frequência ao tema dos subumanos, com o qual ele se referia aos povos de origem judaica e eslava, declarando que havia uma só coisa a fazer com esses ‘parasitas’, a saber, exterminá-los.
Mediante o uso habilidoso da máquina da propaganda nazista, ele conseguiu induzir uma parte considerável da população alemã a projetar coletivamente a sua sombra sobre esses dois povos tragicamente desafortunados. O que torna esse tipo de propaganda tão devastador em suas consequências psicológicas é o fato de que ela consegue ativar o arquétipo do mal, que em seguida, pode ser projetado sobre o ‘inimigo’, além da própria sombra pessoal. Esta dupla projeção funciona então como justificativa para o extermínio que, a partir daí, é inevitável.” (Stevens, Anthony. Jung: Vida e Pensamento – Tradução Attílio Brunetta – Editora Vozes – 1993).
Ao analisarmos a atual situação mundial podemos identificar a sombra coletiva sendo ativada tanto de um lado quanto de outro entre as nações em litígio.
Jesus fala sobre a grande tribulação:
“Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda”. (Mateus 24:15);
Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes (v. 16);
E quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa (v. 17);
E quem estiver no campo não volte atrás a buscar os seus vestidos (v. 18);
Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tão pouco há de haver (Mateus 24: 21);
Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor (Mateus 24: 42);
Sabemos que Jesus ao se referir à Judeia está falando da “região espiritual”, isto é, do estado mental e vibratório daqueles que cultivam ideais nobres e edificantes e que se esforçam para vivenciar os ensinamentos do Mestre. A mesma interpretação cabe para a referência àqueles que estiverem “sobre os telhados” e no “campo” de trabalho construtivo. Jesus adverte que ninguém desça ou volte, preocupado com as coisas materiais.
Allan Kardec insere em O Livro dos Espíritos, na terceira parte, “Das Leis Morais – Da Lei de Destruição”, algumas perguntas acerca do tema guerras e os Benfeitores Espirituais explicam que o que impele o homem à guerra é a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões.
Ninguém ignora, no meio espírita, que estamos diante de instantes decisivos para a Humanidade, que deverá passar por imprescindível transformação que a qualificaria para o estágio de “regeneração”, consoante a afirmativa de Jesus de que “os brandos, os pacíficos herdariam a Terra”. Os testemunhos virão, melhor dizendo, já estão acontecendo e cada vez mais porão à prova a nossa fé, a nossa confiança, coragem e perseverança. Tenhamos sempre presente e fortalecida a nossa fé, pois sabemos que o Cristo está no leme e Ele é o sublime timoneiro dessa imensa nave que é o nosso planeta. A humanidade terrestre integra a família universal e o Criador a tudo provê em Sua infinita Misericórdia e Amor.
Emmanuel, em memorável página, ensina que no sermão profético Jesus se refere “aos instantes dolorosos que assinalariam a renovação planetária”.
Vejamos um trecho dessa mensagem, intitulada “Para os Montes”, extraída do livro Caminho, Verdade e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier (ed. FEB) e que é impressionantemente atual:
“E a atualidade da Terra é dos mais fortes quadros nesse gênero. Em todos os recantos, estabelecem-se lutas e ruínas. Venenos mortíferos são inoculados pela política inconsciente nas massas populares. A baixada está repleta de nevoeiros tremendos. Os lugares santos permanecem cheios de trevas abomináveis. Alguns homens caminham ao sinistro clarão de incêndios. Aduba-se o chão com sangue e lágrimas, para a semeadura do porvir. É chegado o instante de se retirarem os que permanecem na Judeia para os ‘montes’ das ideias superiores. É indispensável manter-se o discípulo do bem nas alturas espirituais, sem abandonar a cooperação elevada que o Senhor exemplificou na Terra; que aí consolide a sua posição de colaborador fiel, invencível na paz e na esperança, convicto de que, após a passagem dos homens da perturbação, portadores de destroços e lágrimas, são os filhos do trabalho que semeiam a alegria, de novo, e reconstroem o edifício da vida.”
É oportuno refletirmos sobre isso.
Suely Caldas Schubert, publicação de “O Reformador”, maio de 2003