A terceira viagem de Paulo de Tarso

Paulo de Tarso
Paulo de Tarso

Paulo entregou, alegremente, a pequena fortuna Pedro, cuja aplicação iria assegurar maior independência à instituição de Jerusalém, para o desenvolvimento justo da obra do Cristo.
Após alguns dias, demandou Antioquia, junto dos discípulos. Descansou algum tempo junto dos companheiros bem-amados, mas sua poderosa capacidade de trabalho não permitia maiores intermitências de repouso.
Terminado o estágio em Antioquia, voltou ao berço natal, aí falando das verdades eternas e conseguindo despertar grande número de tarsenses para as realidades do Evangelho. Em seguida, internou-se, de novo, pelas alturas do Tauro, visitou as comunidades de toda a Galácia e Frígia, levantando o ânimo dos companheiros de fé, no que empregou elevada percentagem de tempo.
Em toda parte, lutas sem tréguas, alegrias e dores, angústias e amarguras do mundo, que não chegavam a lhe arrefecer as esperanças nas promessas de Jesus.
Vencidas as lutas indefessas, deliberou regressar a Éfeso, interessado na feitura do Evangelho recalcado nas recordações de Maria.
Embora pretendesse apenas manter algumas conversações mais longas com a filha inesquecível de Nazaré, foi compelido a enfrentar a luta séria com os cooperadores de João. A sinagoga conseguira grande ascendente político sobre a igreja da cidade, que ameaçava soçobrar. O ex-rabino percebeu o perigo e aceitou a luta, sem reservas. Durante três meses discutiu na sinagoga, em todas as reuniões. A cidade, que se mantinha em dúvidas atrozes, parecia alcançar uma compreensão mais elevada e mais rica de luzes. Multiplicando as curas maravilhosas, Paulo, um dia, tendo imposto as mãos sobre alguns doentes, foi rodeado por claridade indefinível do mundo espiritual. As vozes santificadas, que se manifestavam em Jerusalém e Antioquia, falaram na praça pública. Esse fato teve enorme repercussão e deu maior autoridade aos argumentos do Apóstolo, em contradita aos judeus.
Compreendendo a importância da organização de Éfeso para toda a Ásia, Paulo de Tarso deliberou prolongar, ali, a sua permanência. Vieram discípulos de Macedônia. Áquila e a esposa tinham regressado de Corinto; Timóteo, Silas e Tito cooperavam ativamente visitando as fundações cristãs já estabelecidas. Assim, vigorosamente auxiliado, o generoso Apóstolo multiplicava as curas e os benefícios sem nome do Senhor. Trabalhando pela vitória dos princípios do Mestre, fez que muitos abandonassem crendices e superstições perigosas, para se entregarem aos braços amorosos do Cristo.
Esse ritmo de trabalho fecundo perdurava há mais de dois anos, quando surgiu um acontecimento de vasta repercussão entre os efésios.
A cidade votava um culto especial à Deusa Diana. Pequeninas estátuas, imagens fragmentarias da divindade mitológica surgiam em todos os cantos, bem como nos adornos da população. A pregação de Paulo, entretanto, modificara as preferências do povo. Quase ninguém se interessava mais pela aquisição das imagens da deusa. Esse culto, porém, era tão lucrativo que os ourives da época, chefiados por um artífice de nome Demétrio, iniciaram veemente protesto perante as autoridades competentes.
Demétrio movimentou-se. Os ourives reuniram-se e pagaram amotinadores que começaram a espalhar boatos entre os mais crédulos. Irritaram-se os ânimos. Ao entardecer, grande massa popular postou-se na vasta praça, em atitude expectante. A noite fechou, a multidão crescia sempre. Ao acenderem-se no teatro as primeiras luzes, os ourives acreditaram que o Apóstolo lá estivesse.
Com imprecações e gestos ameaçadores, a multidão avançou em furiosa grita, mas somente Gaio e Aristarco, ali se encontravam e ambos foram presos. Verificando a ausência de Paulo, a massa inconsciente encaminhou-se para a tenda de Áquila e Prisca. Paulo, no entanto, lá não estava. A oficina singela do casal cristão foi desmantelada a golpes impiedosos. Por fim, o casal foi preso, sob os apupos da turba exacerbada.
Recolhido à residência de um amigo, Paulo de Tarso inteirou-se dos fatos graves que se desenrolavam por sua causa.
No dia seguinte, o generoso Apóstolo dos gentios foi, em companhia de João, observar os destroços da tenda de Áquila. Tudo em frangalhos na via pública. Paulo refletiu com imensa mágoa nos amigos presos e falou ao filho de Zebedeu, com os olhos mareados de lágrimas.
– Como tudo isto me contrista! Áquila e Prisca têm sido meus companheiros de luta, desde as primeiras horas da minha conversão a Jesus. Por eles eu devia sofrer tudo, pelo muito amor que lhes devo; assim, não julgo razoável que sofram por minha causa. – A causa é do Cristo! – respondeu João com acerto. O ex-rabino pareceu conformar-se com a observação e sentenciou:
– Sim, o Mestre nos consolará. E, depois de concentrar-se longamente, murmurou:
– Estamos em lutas incessantes na Ásia, há mais de vinte anos… Agora, preciso retirar-me da Jônia, sem demora. Os golpes vieram de todos os lados. Pelo bem que desejamos, fazem-nos todo o mal que podem. Ai de nós se não trouxéssemos as marcas do Cristo Jesus!
– Não te vás por enquanto, disse João solícito, ainda és necessário aqui. – Impossível, respondeu com tristeza, a revolução dos artífices continuaria. Todos os irmãos pagariam caro a minha companhia. – Mas não pretendes escrever o Evangelho, consoante as recordações de Maria? Perguntou o filho de Zebedeu. – É verdade, confirmou o ex-rabino com serenidade amarga, entretanto é forçoso partir. – O que de tudo concluo é que minha tarefa no Oriente está finda. O espírito de serviço exige que me vá além… Tenho esperança de pregar o Evangelho do Reino, em Roma, na Espanha e entre os povos menos conhecidos…
Seu olhar estava cheio de visões gloriosas e João murmurou humildemente:
– Deus abençoará os teus caminhos. Demorou-se ainda em Éfeso, movimentando os melhores empenhos a favor dos prisioneiros.
Conseguida a liberdade dos detentos, resolveu deixar a Jônia dentro do menor prazo possível. Estava, porém, profundamente abatido. Dir-se-ia que as últimas lutas haviam cooperado no desmantelo de suas melhores energias. Acompanhado de alguns amigos, dirigiu-se para Tróade, onde se demorou alguns dias, edificando os irmãos na fé. A fadiga, entretanto, acentuava-se cada vez mais.
As preocupações enervavam-no. Experimentava, no íntimo, profunda desolação, que a insônia agravava dia a dia. Paulo que nunca esquecera a ternura dos irmãos de Filipes, deliberou, então, procurar ali um abrigo, ansioso de repousar alguns momentos. Uma agradável surpresa ali o esperava; Lucas encontrava-se, acidentalmente, na cidade e foi abraçá-lo. Avistando o amigo, o médico alarmou-se. Paulo explicou que estava doente, que muito sofrera nas últimas pregações em Éfeso, que estava sozinho em Filipes, depois do regresso da alguns amigos que o haviam acompanhado, que os colaboradores mais fiéis haviam partido para Corinto, onde o aguardavam.
Muito surpreendido, Lucas tudo ouviu silencioso e perguntou:
– Quanto partirás? Pretendo ficar aqui duas semanas. Suponho que terei de partir para o Ocidente. – Muito bem, respondeu Lucas. Vou ultimar os assuntos que aqui me trouxeram e irei contigo a Corinto. A companhia de Lucas e a mudança das paisagens revigoravam-lhe as forças físicas. O próprio médico estava surpreendido com a reação natural daquele homem de vontade poderosa.
Pelo caminho, através das pregações ocasionais de um longo itinerário, juntaram-se a eles alguns companheiros mais devotados.

O apelo de Tiago

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