Interpetação do apocalípse: introdução

Anexo ao Novo Testamento, ou Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, encontra-se um livro denominado APOCALIPSE DE SÃO JOÃO.
Essa obra é o resultado de uma comunicação que o “desterrado de Patmos” recebeu do Espírito de Jesus.
É o livro das predições que narra, em linhas gerais, aquilo que havia de suceder no mundo religioso, e que está tendo o seu cumprimento literal.
Além das exortações, recomendações às diversas igrejas, a parte mais interessante e, por isso mesmo, a apocalíptica, é a que faz referência às Bestas, aos Dragões, e à grande Prostituta, que, no dizer do profeta, é a falsa Religião, que conduz os homens à perdição.
Baseados em diversos autores que têm mais ou menos aprofundado as suas pesquisas, removendo os mistérios que embaraçam a interpretação de tão extraordinária revelação, vamos estudar os principais trechos que, pode-se dizer, constituem o enredo de dita obra.
“Nada há escondido que não haja de aparecer; nada há oculto que não seja mais tarde revelado”, disse o incomparável Mestre.
Enquanto há ignorância, tudo é mistério, tudo é indecifrável; mas depois que o sol do progresso aquece as nossas almas, partem-se as cascas do mistério, rasga-se o véu da letra, e as coisas nos aparecem tais como são, a verdade ostentando a beleza da sua nudez.
O movimento da Terra, a gravitação dos corpos, a circulação do sangue, as vibrações, base da visão e da audição, foram outros tantos mistérios nas noites da ignorância. Mas a alavanca do progresso conseguiu remover as pedras que encerravam, no túmulo do preconceito, todos esses conhecimentos de que se ufana a geração deste século.
O “espelho de enigma” precede sempre a visão face a face, e, enquanto isso não acontece, cada qual vê os homens e as coisas através dos óculos da sua miopia e da mesma cor das suas opiniões preconcebidas. É por isso que muitos zoilos (maus críticos, invejosos), folheando as memoráveis páginas do Apocalipse, delas se servem como se fossem tintas de várias cores, onde costumam molhar a sua pena para satirizar fatos que não experimentaram e ideias que não estudaram.
Queremos referir-nos àqueles que, aproveitando-se dos nomes que o tornam admirados, abusam da estima de seus admiradores e, ultrapassando os limites do seu saber, crivam de setas envenenadas de sectarismo os fatos e a teoria espírita.
Foi prevendo a impressão que os conceitos desses escribas produzem no ânimo popular, propenso, quase sempre, a aceitar tudo o que é mau e a repelir o livre exame, que nos propusemos, em bem do ideal, a escrever a “Interpretação Sintética do Apocalipse”.
Mais de uma das ilustres personalidades do mundo católico, clérigos e leigos, têm tido a incrível coragem de, sem mesmo conhecerem a matéria de que tratam, afirmar que o “Dragão” e a “Besta”, caracterizados no Apocalipse de São João, são representados pela Maçonaria, pelo Espiritismo e por todos aqueles que não participam de suas ideias dogmáticas.
Felizmente, porém, não têm passado de afirmações gratuitas, sem apresentação de provas, despidas mesmo do espírito de raciocínio que deve acompanhar a todos os pesquisadores da Ciência ou da Religião.
Não queremos fazer crítica balofa, sem exame severo e meditação profunda, porque o nosso fim não é atacar agremiações nem personalidades, mas aclarar ideias, estudar questões que se ligam ao bem-estar geral, e, verberando o erro que subjuga as consciências, fazer brilhar a verdade, qual rútila estrela que nos mostra a Terra da Promissão.
Assim orientados, é que pretendemos penetrar os mistérios do Apocalipse, e, à semelhança do pescador de pérolas, oferecer, aos que nos leem, a “pérola de raro valor”, de que fala a parábola evangélica.

Por Cairbar Schutel. Primeira edição deste livro ocorreu no dia 21 de setembro de 1918.

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