A religião em sua mais simples expressão
A Religião é o laço que nos une a Deus, e a manifestação mais simples, e também, mais alta de religião, que o homem, com facilidade, concebe, é a caridade. A caridade é, pois, o expoente máximo da Religião.
Não dizemos que a Religião é a verdade, porque seria isso dificultar a conquista da Religião, que, com tanta sabedoria, tanto amor e tanto sacrifício, Jesus pôs ao alcance de todas as criaturas humanas.
A caridade se faz compreender por todos, e é a todos acessíveis. Mas a verdade só se alcança através dos grandes impulsos da inteligência. Esta, contudo, somente quando iluminada pela claridade, pode aspirar à contemplação interior de Deus. Por isso é que só a caridade salva.
Em resumo: a Religião, que ensina e conduz à caridade, tem o seu ponto de apoio no Evangelho de Jesus, porque foi este o maior Espírito que baixou a Terra, e soube, como nenhum outro, praticar a caridade em sua plenitude.
Eis, pois, o Código Religioso, em sua mais simples expressão:
EVANGELHO DE MATEUS:
Capítulo V (43 a 48) – “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre bons e maus e vir chuvas sobre justos e injustos. Por que, se vós não amais senão os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se vós saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios?”
Capítulo VII (12): “Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o, assim, também, vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.”
Capítulo XXII (37 a 40): “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de todo o teu entendimento e de toda a tua alma. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante ao primeiro, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Esses artigos e parágrafos do Código Divino resumem todas as virtudes que o homem pode praticar para obter a sua “perfeição espiritual”. É, portanto, na obediência ativa dessa Lei que consiste a religiosidade.
DEDUÇÕES FILOSÓFICAS DA RELIGIÃO
A ideia religiosa traz, como consequência, a sobrevivência do Espírito à morte do corpo, e deste axioma derivam as condições físicas e morais do homem depois da morte. De onde se conclui que, para ser religioso, é preciso que o homem tenha fé nos seus destinos. Parece claro que ninguém pode ter “fé na vida futura”, sem que dela tenha noção; e, para que dela tenha noção, é preciso que estude, investigue, compreenda.
Ninguém pode, pois, ser religioso sem que estude a Religião sob os seus vários aspectos.
E o Apóstolo das gentes, interpretando a Religião pela caridade, diz em uma de suas epístolas:
“Que a vossa caridade abunde em todos os conhecimentos para que aproveis o melhor e não tenhais tropeços no dia do Cristo”.
A Religião não dispensa os seus dois atributos: pureza e simplicidade.
Estas condições, entretanto, que revestem a Religião, não a impedem de ser racional e experimental. É nesse sentido que a Religião manifesta, nas almas, o seu caráter verdadeiramente moral, pois representa a fé ativa e não a “fé cega”, obcecada, filha do fanatismo.
Essas considerações eram indispensáveis para entrarmos no tema “Apocalipse”, que pretendemos explicar.
Por Cairbar Schutel. Primeira edição deste livro ocorreu no dia 21 de setembro de 1918.