CAPÍTULO XIV
OS TEMPOS DA CEIFA
Diz o Eclesiastes que tudo tem o seu tempo, e todo propósito debaixo do céu tem o seu tempo.
“Há tempo de nascer, de morrer, de plantar e de arrancar o que se plantou”.
“Tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de guerra e tempo de paz”.
Na “Parábola do Joio e do Trigo”, (São Mateus, XIII: 21 a 30) Jesus fortifica esta lição, dizendo aos seus servos que deixassem crescer o trigo e o joio, até o tempo da ceifa, para não suceder que fosse o trigo também prejudicado.
E o joio foi conservado no meio do trigo, até há pouco tempo, quando começou a ceifa.
São João abre o capítulo XIV narrando a visão que teve do “CORDEIRO”, em pé, sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham escrito o nome dele e de seu Pai sobre as suas testas”.
Nesse ínterim, o profeta ouve uma “voz como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e a voz era como de harpistas que tocavam nas suas harpas”.
O cântico, diz ainda o vidente, “é um novo cântico diante do trono e das quatro criaturas viventes e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil, que foram comprados na terra. São os que seguem o Cordeiro e foram comprados dentre os homens para ser as primícias para Deus e para o Cordeiro”.
O CÂNTICO NOVO, indubitavelmente, é o Espiritismo, e dos cento e quarenta e quatro mil fazem parte aqueles que estudam com amor esse todo harmônico e belo, que constitui a FILOSOFIA ESPÍRITA. Eles foram adquiridos para ser as primícias para Deus e para o Cordeiro, porque, é pelo seu trabalho constante na propaganda, quer como Espíritos, no Invisível, quer como encarnados, que a Verdade brilha e realça, concitando os homens à obediência dos preceitos da MORAL CRISTÃ e convidando-os à adoração do Ser Supremo, em espírito e verdade, como ensinou o Mestre à mulher samaritana.
Empregando o evangelista a expressão “foram comprados da terra”, quis significar que os cento e quarenta e quatro mil se devem fazer reconhecer pelo seu desprendimento das coisas do mundo, pela sua moral, pela sua humildade, finalmente, pela sua caridade, virtude que é a primícia para Deus.
Significa, ainda, que os cento e quarenta e quatro mil receberam a palavra, pela graça, para pregação da Fé, como diz o Apóstolo das gentes.
ESPÍRITA, quer dizer adepto da Filosofia Espírita, que se crê Espírito Imortal, que está em relação com os Espíritos, que trata da sua Vida Espiritual, que propaga as manifestações espíritas, que interpreta os Evangelhos em espírito, e não a letra, que adora a Deus em espírito e verdade, que admira o Cristo Jesus e segue seus ensinamentos, que crê no Cristo Jesus e sabe que ele existe em Espírito; por isso, assim o ama, mas não o adora numa figura, numa estatueta, numa imagem, onde ele não está.
Deus é Espírito, e seus filhos são Espíritos, porque a carne, o corpo é oriundo de pais carnais. Proclamando-me espírita, proclamo-me “filho de Deus”, e, portanto, “primícias para Deus”’, como diz São João.
O CÂNTICO NOVO é, pois, a pregação do Evangelho, em espírito e verdade, graça essa que havia sido prometida por Jesus (São João XIV, 26; XVI, 7 e 8, 9 e 10) e que nos liberta da ignorância e do cativeiro sacerdotal, que tanto nos tem oprimido.
No versículo 6, São João vê um ANJO com este Evangelho Eterno que havia de ser anunciado “aos habitantes da Terra, e a toda a nação e tribo, e língua e povo”.
A segunda VOZ (Apocalipse, XIV, 8) anuncia a destruição da GRANDE BABILÔNIA, “que deu a beber a TODAS AS NAÇÕES do vinho da ira da sua devassidão”: É ROMA PAPAL, cujas doutrinas se tinham infiltrado em todos os povos e dominado todas as nações.
A terceira voz (Apocalipse, XIV, 9 a 12) é um terrível libelo contra os que ADORAM a BESTA ou recebem a MARCA DO SEU NOME. O apóstolo recomenda, por fim, aos que receberam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus, que perseverem na Sã Doutrina.
A quarta VOZ (Apocalipse, XIV, 13) é um cântico aos mortos que morrem no Senhor.
Logo depois que soou a quarta VOZ, o VIDENTE olha e vê a SEARA DA TERRA (Apocalipse, XIV, 14 a 20) toda madura e os quatro ANJOS metendo a foice afiada, ceifando a seara da terra e vindimando os cachos da videira da terra, porque suas uvas estavam bem maduras. E tudo o que foi vindimado foi lançado no lagar e saiu sangue do lagar por espaço de mil e seiscentos estádios.
Este quadro estampa todas as doutrinas que estão sendo lançadas à execração, porque não correspondem às necessidades espirituais, e, ainda mais, reflete a guerra mundial, produto da ciência humana, elevada à categoria de deusa.
Por Cairbar Schutel. Primeira edição deste livro ocorreu no dia 21 de setembro de 1918.