A mulher e o dragão

CAPÍTULO XII

Perseguição aos cristãos.
A alusão à BESTA, feita no capítulo precedente, devia seguir o “grande sinal visto do céu” pelo evangelista: “Uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”.
Essa MULHER, positivamente, não pode representar senão a RELIGIÃO. A sua vestidura como sol, representando a força criadora das almas; as doze, estrelas sobre a sua cabeça, o que é uma alusão aos doze apóstolos, que a representam nas doze tribos de Israel, conforme explicamos no capítulo sétimo; a lua sob seus pés simbolizando as fases progressivas com que ela se apresenta, são sinais bem característicos para orientar-nos na interpretação da visão descrita pelo solitário de Patmos.
“A mulher estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz”.
Este trecho é uma referência ao aparecimento do CRISTIANISMO, encarnado na pessoa de Jesus: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. – Evangelho S. João I, 14.
Em seguida ao primeiro sinal, aparece um outro: “Um Dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho”.
É o IMPÉRIO ROMANO; o vermelho representa a púrpura imperial; as sete cabeças com os diademas são os sete Césares: Júlio César, Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero e Galba, que haviam reinado até o momento em que o desterrado de Patmos recebera a revelação apocalíptica. Os dez chifres são os dez procônsules, governadores das províncias.
As “‘estrelas” significam os Espíritos assistentes do Império Romano. A ameaça do DRAGÃO diante da MULHER se explica nas passagens do Evangelho, S. Mateus: II, 1 a 8; 13 a 15.
A fuga da MULHER para o DESERTO, por espaço de mil duzentos e sessenta dias, corresponde ao tempo em que a BESTA acentuou a sua fase de maior poderio, que durou quarenta e dois meses, (2) como se vai ver na tradução do capítulo seguinte. (2) – Apocalipse, XIII, 5.
A RELIGIÃO foi execrada pelo Poder Romano, e os seus mandamentos foram substituídos pelos MANDAMENTOS DA IGREJA, pelos dogmas dos Concílios, pelos cultos exteriores, condenados expressamente pelos Evangelhos.
Foi, também, quando se deu a BATALHA NO CÉU: “Miguel e seus anjos batalharam contra o DRAGÃO, e os seus anjos. Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi lançado o grande dragão, a antiga serpente, chamada Diabo e Satanás, que engana a todo mundo; ELE FOI LANÇADO NA TERRA E OS SEUS ANJOS FORAM LANÇADOS COM ELE”. – Apocalipse, XII, 7 e 8.
Essa batalha, que se deu no Espaço (no céu), foi, pelo que se vê, decisiva; Os Espíritos aliados do DRAGÃO, e que em hostes maléficas dominavam o mundo, ficaram uns presos à baixa atmosfera da Terra, outros encarnaram, e, pelas suas obras, se tornaram conhecidos e detestados de todos os homens de boa vontade, a quem não cessaram de oprimir.
Os habitantes do Espaço, libertos dos terríveis inimigos, entoaram hosanas aos céus: “alegrai-vos, ó céus e os que neles habitam. Ai dos que habitam NA TERRA E NO MAR, porque o DIABO DESCEU A VÓS cheio de grande ira, SABENDO QUE TEM POUCO TEMPO”. – Apocalipse, XII, 12.
E o DRAGÃO com todo o seu poder (embora esse poder fosse por pouco tempo) perseguiu a MULHER (a Religião), que enviara ao mundo o seu dileto Filho (Jesus); e dessa perseguição resultou o desaparecimento do sentimento religioso do cenário da Terra; até aqueles poucos que guardavam os mandamentos de Deus, e tem o testemunho de Jesus Cristo, sofreram a guerra, sem tréguas, do DRAGÃO, que os segregou do convívio social. – Apocalipse, XI II, 3, 4.
Este capítulo aparece tão claro aos olhos daqueles que já viram desenrolar-se, diante de si, os quadros da história romana, que dispensava até as explicações que acabamos de dar.
A mensagem recebida pelo vidente realizou-se em toda a sua linha geral.
Vamos entrar no capítulo XIII do Apocalipse. É nele que encontraremos a chave do mistério de todo o livro, em que o profeta descreve o que viu e o que ouviu dos Espíritos que lhe abriram as portas do futuro, para que conhecesse as dores por que o mundo havia de passar.
A tradução do capítulo seguinte vai ser uma contribuição inestimável para o leitor que precisa firmar a sua opinião sobre a verdade religiosa.

Por Cairbar SchutelPrimeira edição deste livro ocorreu no dia 21 de setembro de 1918.

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