As bem-aventuranças – um trecho do sermão do monte

No mundo há alegrias, porém mais existem dores e tristezas. Já dizia que o homem vive pouco tempo na Terra e a sua vida é cheia de tribulações — Brevi vivens tempore repletur multis miseriis.
A Escritura chama a Terra um Vale de Lágrimas e compara a vida do homem à do operário que apenas à noite come o seu pão banhado de suor.
Sentimo-nos, neste mundo, vergados ao peso da dor; hoje, amanhã ou depois, ela não deixa de nos visitar. O peso dos infortúnios acompanha a Humanidade em todos os séculos.
O homem vem ao mundo com um grito; um gemido de dor é o seu último suspiro!
Do berço ao túmulo, a estrada da vida está semeada de espinhos e banhada de lágrimas! Quantas ilusões, quantas amarguras, quantas dores passamos neste mundo!
A dor é uma lei semelhante à da morte; penetra no tugúrio do pobre como no palácio do rico. Neste mundo ainda atrasado, onde viemos progredir, a dor parece ser a sentinela avançada a despertar-nos para a perfeição.
Max Nordau dizia: Ide de cidade em cidade e batei de porta em porta; perguntai se aí está a felicidade, e todos vos responderão. Não; ela está muito longe de nós!
Mas se é verdade que o Senhor permitiu que os sofrimentos nos assaltassem, não é menos verdade que também nos proporciona a Esperança, com que aguardamos dias melhores. Bem-aventurados os que sofrem, pois serão consolados.
A Esperança é a estrela que norteia as nossas mais belas aspirações; é a estrela que ilumina a noite tenebrosa da vida, e nos faz vislumbrar a estância de salvamento. A vida na Terra é um caminho que nos conduz às paragens luminosas da Vida Eterna; não é um repouso, mas uma preparação para o repouso.
Paulo, o Apóstolo dos Gentios, recordando-nos numa das suas luminosas Epístolas a Vida Real, disse: Dia virá em que despiremos a veste mortal para vestir a da imortalidade.
Atravessamos a existência na Terra como o soldado atravessa um campo de fogo e de sangue, e os bravos e os fortes de espírito cravam nas muralhas o seu estandarte e levantam o grito de vitória!
É isto o que nos ensina o Espiritismo com a sua consoladora Doutrina.
Tomado de compaixão pelo mundo, o Cristo desce das alturas, senta-se sobre um alto monte, atrai a si multidões de desventurados e começa o seu monumental sermão com as consoladoras promessas:
Bem-aventurados os pobres, os aflitos, os que choram, porque deles é o Reino dos Céus! A palavra boa, a Esperança, proporciona sempre resignação, coragem e fé aos desiludidos das promessas do mundo.
O homem que confia e espera em Deus, vê nos sofrimentos o resgate de suas faltas, o meio de se purificar da corrupção! É preciso ter fé, é preciso ter Esperança. Dizei ao moribundo que, em verdade não morrerá, e ele, animado pela vossa palavra, enfrentará a morte e não sofrerá o seu aguilhão!
A Esperança é a consolação dos aflitos, a companheira do exilado, a amiga dos desventurados, a mensageira das promessas do Cristo!
Perca o homem tudo: bens, fortuna, saúde, parentes, amigos, mas se a Esperança, Filha do Céu, o envolve, ele prossegue em sua ascensão para o bem, para a vida, para a Imortalidade!
Do alto do monte, tomado de tristeza pelas desventuras humanas, o Senhor ensinava às multidões os meios de conquistar, com o trabalho por que passavam, o Reino dos Céus. E a todos recomendava resignação na adversidade, mansidão nas lutas da vida, misericórdia no meio da tirania, e higiene de coração para que pudessem ver Deus. Nessa autêntica oração, o Senhor já previa que seriam injuriados e perseguidos todos aqueles que, crendo na sua Palavra, encontrassem nela o arrimo para suas dores, o lenitivo para seus sofrimentos; mas recomenda, antecipadamente, não nos encolerizarmos com o mal que nos fizerem, para que seja grande o nosso galardão nos Céus. Disse mais: que exemplificássemos a nossa vida como os profetas que nos precederam, porque bem-aventurados têm sido todos os que são perseguidos por causa da justiça.
Lutemos contra a dor, aproveitando essa prova que nos foi oferecida, para a vitória do Espírito, liberto dos liames terrenos!
Empunhemos a espada da Fé e o escudo da Caridade, com todos os seus atributos, e o Reino de Deus florescerá em nós, como rogamos diariamente no Pai nosso, a prece que Jesus nos legou.

Cairbar Schutel, do livro Parábolas e Ensinos de Jesus, 1ª Edição – 1928.

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